O escapulário de Nossa Senhora do Carmo é uma das principais formas de devoção mariana da Igreja Católica. Essa devoção está diretamente ligada à Ordem Carmelitana. Tal família religiosa surgiu no final do século XII, durante o tempo das cruzadas. Eremitas, vindos principalmente da Europa, se reuniram no Monte Carmelo, na Palestina, junto à fonte do profeta Elias, e lá estabeleceram morada. Depois de alguns anos, pediram ao patriarca de Jerusalém (Santo Alberto) que lhes dessem uma regra de vida sob a qual todos deveriam continuar vivendo. Construíram uma capela dedicada à Nossa Senhora no centro de onde ficavam as celas, onde morava cada eremita. Principalmente por conta das invasões bárbaras à Terra Santa, eles retornaram, por volta 1238, à Europa.
Quando os carmelitas chegaram à Europa, tiveram muitas dificuldades para serem reconhecidos como uma Ordem religiosa. Corriam o risco de se extinguirem. Segundo alguns relatos, surgidos a partir do século XV, São Simão Stock, que seria o geral da Ordem, no ano de 1251 teria feito uma oração à Virgem Maria pedindo sua proteção sobre os Carmelitas. Ele, segundo essas tradições, teve uma visão dela lhe entregando o escapulário e prometendo sua proteção a todos que usassem. Mas, o que vem a ser o escapulário? Por que os Carmelitas o usavam? O escapulário é uma um longo pedaço de tecido marrom, com um buraco no qual passa a cabeça, da largura dos ombros, que cobre a parte da frente e das costas da pessoa até os pés. Os religiosos o colocam sobre a túnica. Antigamente, ele era utilizado como um avental. Por questões de praticidade, difundiu-se entre os leigos, devotos de Nossa Senhora do Carmo, a prática de usar um modelo menor, no qual geralmente carrega, além de um pedaço de tecido, as estampas de Nossa Senhora do Carmo, de um lado, e do Sagrado Coração de Jesus do outro. Buscaremos, agora, uma proposta para uma reflexão contemporânea para o uso do escapulário a partir de três dimensões.
O escapulário, entendido como hábito, é sinal de consagração por meio da agregação à Família Carmelitana. Naquele tempo, no século XII, esse símbolo, mostrava tanto a pertença quanto a proteção por parte do dono daquele feudo ou fazenda. Assim, quem usava o escapulário de Nossa Senhora do Carmo pertencia ao grupo dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, como é o nosso nome “completo”. Hoje, a Ordem reconhece que todos os que usam o escapulário são carmelitas. Por isso, há uma tradição que geralmente quem faz a imposição do escapulário é um ou uma carmelita ou alguém devidamente autorizado. A pessoa é acolhida nesta família, e dela deve participar de acordo com seu carisma próprio. Somos chamados a ser uma presença orante, fraterna e profética no meio do povo. Desse modo, como cristãos que vivem um carisma específico, devemos viver como Maria: toda para Deus.
O escapulário é sinal de entrega total a Deus. A espiritualidade carmelitana chama isso de “viver em obséquio de Jesus Cristo” (Regra do Carmo, n. 2). Para isso, nós devemos “estar dia e noite meditando na Lei do Senhor” (Regra do Carmo, n. 10). O escapulário toma nossa frente e nossas costas. Isso significa que quem usa, deve também, como Maria, estar todo para Deus. Maria foi obediente e se ofereceu por inteira ao Pai (cf. Lc 1, 26). Nós também, como carmelitas, devemos fazer o mesmo. Essa entrega, por sua vez, nos leva ao próximo.
Como já vimos, o escapulário é, antes de qualquer coisa, um avental. Usamos avental para o trabalho! Outrora, o usavam aqueles que estavam a serviço no campo, na horta, nos afazeres da casa. Maria nos ensina que devemos estar sempre dispostos a servir. Nas bodas de Caná, ela, mesmo sendo apenas convidada para a festa, estava na cozinha, atenta às realidades das pessoas que podem levá-las a ter sua dignidade humana violada. O (a) carmelita é convidado a estar na cozinha do mundo! Sabemos que o melhor caminho é estar atentos para fazer o que “Ele” nos disser, servindo ao Senhor, principalmente nos mais necessitados (cf. Jo 2, 1-12). Por isso, quem veste esse avental deve estar sempre em atitude de serviço (cf. Jo 13, 1-20).
Por isso, vemos que o escapulário de Nossa Senhora do Carmo nos compromete a seguir os passos de Maria de Nazaré em atitude de obediência a Deus e no serviço a Cristo na busca de uma vivência fraterna entre os irmãos. Vestir o escapulário, portanto, não é um privilégio, mas um convite à missão. Vivendo em obséquio de Jesus Cristo e meditando dia e noite na Lei do Senhor, o (a) carmelita segue, junto com Maria e inspirado por Elias, os passos de Jesus de Nazaré.
O PRIVILÉGIO SABATINO - Esta singela devoção – graças ao incentivo de muitos papas e santos, teve enorme propagação dentro da Igreja e até hoje, felizmente, são muitos os fiéis que portam o escapulário, em sua forma mais popular, não como um “amuleto”, ou sinal “mágico” de salvação, mas com total confiança nas promessas feitas por Nossa Senhora do Carmo, cuja festa se comemora no próximo dia 16 de Julho. Quem usa o Escapulário pode beneficiar-se também de indulgência plenária (remissão de todas as penas do Purgatório) no dia em que o recebe, na festa de Nossa Senhora do Carmo, 16 de julho; de Santo Elias, 20 de julho; Santa Teresinha, 1º de outubro; dos santos carmelitas, 14 de novembro; São João da Cruz, 14 de dezembro; São Simão Stock, 16 de maio. Ainda, de acordo com piedosa tradição, aparecendo ao Papa João XXII, Nossa Senhora institui o “privilégio sabatino”, ou seja, todos os que portarem devotamente o escapulário, se forem para o Purgatório, Ela promete livrá-los no primeiro sábado após a morte. Uma promessa extraordinária, ao alcance de todos.